quinta-feira, 27 de abril de 2017

Renan diz que reforma trabalhista não passa no Senado

Líder do PMDB na Casa classificou reforma como malfeita e injusta e rejeitou discurso de que mudanças trarão empregos

BRASÍLIA - Em novas críticas à reforma trabalhista, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), declarou que não é "da melhor tradição o presidente da República não falar aos trabalhadores no dia do  1º de maio". Renan considera que o texto não passará no Senado da forma como foi aprovado ontem na Câmara dos Deputados.
Senador Renan Calheiros (PMDB-AL)
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) 
"Não acredito que essa reforma saia da Câmara e chegue aqui, ao Senado Federal - reforma de ouvidos moucos -, sem consultar opiniões; reforma que só interessa à banca, ao sistema financeiro, rejeitada em peso e de cabo a rabo pela população; reforma tão malfeita, que chega a constranger e a coagir a base do próprio Governo. Por isso ela vai e volta, de recuo em recuo", declarou.
Renan avalia que a reforma é "injusta", porque retira direitos dos trabalhadores. "Ela rebaixa os salários, é sua consequência mais imediata e perversa. Ela pretende deixar o trabalhador sem defesa, condenado a aceitar acordos que reduzem a remuneração, suprimem reajustes e revogam garantias no emprego. Todos sabemos que a acordos forçados em plena recessão, com 13 milhões de desempregados e com o desemprego aumentando mês a mês, é pedir que se aceite a crueldade como caridade", criticou.
O peemedebista rebateu o argumento do governo de que a flexibilização das leis trabalhistas poderia aumentar a empregabilidade no País. "Esse discurso é usado para seduzir uma parcela da sociedade e garantir o avanço da retirada de direitos. Querem um Brasil para 70 ou 80 milhões de pessoas. Somos 200 milhões e não podemos simplesmente fazer de conta que não existem 120 ou 130 milhões de pessoas. Com essa reforma, elas podem voltar a ficar excluídas; são empurradas de volta para guetos onde padece a legião de 'ninguéns'", continuou.

Para Renan, a proposta vai aprofundar a desigualdade social. O líder do PMDB sugeriu que, ao invés de votarem a reforma trabalhista, os parlamentares deveriam apreciar projeto que põe fim aos salários acima do teto na administração pública, os chamados supersalários. A proposta foi aprovada no Senado no final do ano passado. "Reforma justa seria uma reforma que retirasse privilégios. E os há, senhoras e senhores, demais neste País, são privilégios inconcebíveis. Os supersalários pagos com dinheiro público são o exemplo mais ostensivo e ofensivo à cidadania no Brasil."
Fonte: ESTADÃO

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Prefeitura promete licitar sistema de estacionamento e reprimir ação ilegal

Enquanto licitação não é concluída, Guarda Municipal atua até contratação de empresa

RIO - Basta um passeio pelas ruas do Rio para perceber que flanelinhas continuam intimidando quem procura uma vaga. Sem falar na dificuldade que motoristas têm para encontrar, com os guardadores uniformizados, talões para estacionar em áreas do chamado Rio Rotativo. Diante de tanta irregularidade, mais uma vez a prefeitura promete agir. Até que seja concluída a licitação para a contratação da empresa que vai operar um novo sistema — a administração anterior manteve um edital de concorrência na gaveta desde março do ano passado —, o secretário municipal de Ordem Pública, coronel Paulo Cesar Amendola, garante que a Guarda Municipal atuará tanto nos locais onde o estacionamento é permitido quanto naqueles em que é proibido. O plano começa a ser detalhado hoje, e as ações serão implantadas em dez dias.
— Não tinha solução para o estacionamento nas ruas da cidade. Agora vai ter — assegura Amendola.— Pela Lei Orgânica e pela Constituição brasileira, é responsabilidade municipal o controle do uso do espaço público. Não serão apenas os guardas de trânsito que reprimirão as irregularidades nos estacionamentos. Os que fazem patrulhamento a pé e motorizado também vão agir.

AÇÕES EXCEPCIONAIS
De acordo com o secretário, nos locais onde estacionar é proibido, quem parar será multado. E, se houver flanelinha, inicialmente ele será advertido. Mas, num segundo momento, ele será detido e levado para a delegacia mais próxima.
Em áreas permitidas, explica Amendola, o motorista que não tiver o talão não será multado. Já o guardador que cobrar pela vaga sem fornecer o tíquete ou exigir um valor superior a R$ 2 pode ser detido, se não concordar em sair do ponto.
A PM será informada das ações, embora só vá atuar em conjunto em casos excepcionais, diz o secretário:
— Em logradouros críticos, onde a milícia atue, por exemplo, as ações terão apoio da PM. Sempre que houver risco à segurança dos agentes, a PM acompanhará a Guarda.
Por e-mail, o gabinete do prefeito Marcelo Crivella informou que a Secretaria da Casa Civil “abrirá um processo licitatório para a escolha e a contratação de uma empresa que fará a gestão das vagas”. A nota ressalta que a prefeitura está revendo todos os contratos e licitações da gestão anterior. E que “o prazo para que os processos sejam retomados ou reestruturados depende do cumprimento dos trâmites legais”.
Atualmente, o sistema está sem comando, e a prefeitura se limita a vender tíquetes. Pessoas físicas e jurídicas cadastradas na Secretaria municipal de Transportes podem comprar lotes mínimos de talões (de oito mil cada). A maioria é adquirida para revenda por sindicatos que representam os guardadores. Até 6 de setembro do ano passado, a secretaria havia vendido R$ 3,48 milhões em tíquetes (R$ 0,40, a unidade), um pouco menos que em igual período de 2015 (R$ 3,58 milhões).
Em março do ano passado, a prefeitura publicou o edital do Vagas Inteligentes do Rio (VIR), em que seriam utilizados 1.200 parquímetros para controlar com sensores eletrônicos 37 mil vagas na cidade. As tarifas seriam diferenciadas. O município não informou se adotará este ou outro modelo.
A falta de um sistema mais eficiente pôde ser constatada neste fim de semana. Às 14h30m de sábado, na Rua Barão da Torre, entre as ruas Aníbal de Mendonça e Garcia D’Ávila, em Ipanema, 14 dos 50 carros estacionados estavam sem talão. Situação similar se repetia na Praça General Osório, em Ipanema, onde dez dos 25 veículos não exibiam boletos. Ontem às 16h, em Copacabana, na Rua Aires Saldanha, entre as ruas Miguel Lemos e Almirante Gonçalves, dez de 29 carros não tinham tíquete.

DONOS DAS RUAS
Para a professora Helena Vieira, a sensação é de que os guardadores são os donos das ruas. Helena e suas duas filhas vieram de Macaé para passar o réveillon no Rio e ficar mais uns dias. Pouco antes da virada, sofreram um achaque.
— Estamos hospedadas em Copacabana. Para guardar o carro no Ano Novo, tivemos que pagar por fora, três dias antes, ao flanelinha que fica numa rua interna do bairro — conta Helena. — Isso é uma máfia. Sabemos muito bem que se não pagássemos, ele teria arranhado nosso carro ou furado os pneus.
A ausência de fiscalização leva ainda a situações desagradáveis, como a vivida anteontem pela técnica em radiologia Amanda Mello. O guardador que a abordou na Praça General Osório tinha talões e estava uniformizado. Porém, no momento em que ela foi dar os R$ 2, acabou sendo alvo de um pedido:
— Ele perguntou se eu podia pagar uma água para ele guardar o meu carro, porque estava muito calor. Disse que não tinha como, porque só possuía notas grandes. Ele então pediu meu boleto de volta e anotou o horário, o que não havia feito antes. Saiu resmungando, como se fosse minha obrigação dar um dinheiro a mais.
Para quem é turista, os abusos podem ser novidade, mas para moradores da cidade é rotina. Tarcísio Lima e a mulher Sueli afirmam que nunca estacionam em vias internas de Copacabana, para não ter que lidar com flanelinhas. Para eles, o sistema de tíquetes é eficiente, mas tem alcance limitado.
— Mais para dentro do bairro, a gente não estaciona, porque geralmente eles querem forçar um preço acima da tabela — afirma Sueli.
Ontem, nas ruas Leopoldo Miguez e Aires Saldanha, vias internas de Copacabana, a proporção era quase de um flanelinha para cada quarteirão. Em um dos casos, um deles conseguiu estacionar um veículo em frente à entrada da garagem de um prédio, após conversar com o porteiro. Já em Ipanema, a atuação dos flanelinhas parecia liberada nas ruas Nascimento Silva e Vinícius de Moraes.

CONTRATO COM EMPRESA
Na última tentativa efetiva de melhorar o sistema de estacionamento nas ruas, a prefeitura escolheu a Embrapark, por licitação, para operar 9.094 vagas do Rio Rotativo em oito bairros da Zona Sul (do Leme a São Conrado). A empresa assumiu o serviço em 2009, mas nunca conseguiu vencer a guerra contra os flanelinhas. Em 2014, o contrato com o município foi encerrado, sem ser renovado.
Em junho de 2014, a prefeitura lançou edital a fim de contratar outra empresa para administrar um novo modelo de Rio Rotativo, que acabou suspenso pelo Tribunal de Contas do Município (TCM). Feitos os ajustes determinados, as cláusulas da licitação foram aprovadas pelo tribunal em junho de 2015. A prefeitura, no entanto, levou nove meses para colocar a concorrência na rua, e, ainda assim, voltou atrás, revogou o edital e transferiu o assunto da Secretaria Especial de Concessões e Parcerias Público-Privadas para a Casa Civil, onde ficou parado.
Fonte: O Globo